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20 de fevereiro de 2010

Seguindo o Coelho Branco

(Follow the White Rabbit by Stephenie Morgan)


(...)

Mas, no preciso momento em que o Coelho tirou um relógio do bolso do colete, olhou para ele e começou a correr mais depressa. Alice pôs‑se em pé de um pulo, pois lembrou‑se que nunca vira um coelho de colete nem de relógio. Ardendo de curiosidade, começou a correr: pelo campo, atrás dele, felizmente mesmo a tempo de o ver desaparecer no interior de uma grande toca que havia debaixo da sebe.

No mesmo instante, Alice desceu atrás dele, sem pensar sequer como poderia voltar a sair.

Lá dentro, a princípio, o caminho era a direito, como um túnel, mas depois, de repente, havia uma descida tão pronunciada que Alice nem teve tempo de pensar em parar senão quando deu consigo a cair num poço muito fundo.

Ou o poço era muito fundo ou ela caiu muito devagar, pois teve ocasião de olhar à sua volta e interrogar‑se sobre o que iria passar‑se a seguir. Em primeiro lugar, tentou lobrigar qualquer coisa lá em baixo e perceber para onde ia, mas estava demasiado escuro; depois, olhou para as paredes do poço e verificou que estavam cheias de armários e de prateleiras: aqui e ali havia mapas e desenhos presos por pequenas estacas. Ao passar, retirou um frasco de uma das prateleiras. Lia‑se no rótulo «Doce de laranja», mas, muito decepcionada, Alice viu que ele estava vazio. Não queria deixar cair o frasco com medo de matar alguém e, ao passar por um dos armários, conseguiu enfiá‑lo lá dentro.

«Bem», pensou Alice, «depois de uma queda como esta, nunca mais terei medo de cair nas escadas! Como me acharão corajosa, lá em casa! Ora, não lhes contaria nada disto, mesmo que caísse do telhado!» (O que provavelmente era verdade.)

Para baixo, cada vez mais para baixo. Nunca mais chega o fundo!

– Que distância terei já percorrido? – perguntou Alice, desta vez em voz alta. – Devo estar a aproximar‑me do centro da Terra. Ora vejamos, já devo ter descido umas quatro mil milhas, suponho… – (pois Alice aprendera algumas coisas deste género na escola, e, embora esta oportunidade não fosse a melhor para exibir os seus conhecimentos, uma vez que ninguém estava a ouvi‑la, sempre ia praticando ao repetir) – … sim, deve ser mais ou menos isso… Mas qual a latitude e a longitude a que estarei? – (Alice não fazia a mais pequena ideia do que era a latitude ou a longitude, mas achava que eram palavras bonitas e grandiosas.)

Pouco depois, recomeçou:

– Quem me dera saber se estou mesmo a atravessar a Terra! Como seria divertido ver pessoas a andarem de cabeça para baixo! Os antípodas, creio que é assim que se diz… – (desta vez ficou muito contente por não estar ninguém a ouvi‑la, pois a palavra não lhe soou bem) – … mas terei de perguntar‑lhes como se chama o país. Por favor, minha senhora, estamos na Nova Zelândia ou na Austrália? – (E tentou fazer uma vénia enquanto falava, tanto quanto é possível fazer uma vénia quando vamos a cair no ar! Acham que é possível?) – E como pensará que sou ignorante por fazer esta pergunta! Não, perguntar não dá resultado… Talvez veja o nome escrito em qualquer lado.

Para baixo, cada vez mais para baixo. Como não havia mais nada para fazer, Alice começou de novo a falar:

– Aposto que Dinah irá sentir muito a minha falta, esta noite! – (Dinah era a gata.) – Espero que não se esqueçam de lhe dar o seu prato de leite, à hora do lanche.

Minha querida Dinah! Quem me dera que estivesses aqui comigo! No ar não há ratos, infelizmente, mas podias caçar um morcego, que é muito parecido com um rato, sabes? Será que os gatos comem morcegos?

Nesta altura, Alice começou a sentir‑se bastante sonolenta e continuou a falar sozinha, como se estivesse numa espécie de sonho:

– Os gatos comem morcegos? Os gatos comem morcegos?

E às vezes:

– Os morcegos comem gatos?

Como as suas perguntas não obtinham resposta, não interessava o modo como as fazia. Sentia que estava a dormitar, e começara a sonhar que caminhava com Dinah pela mão e que lhe perguntava com um ar sério: «Dinah, diz‑me a verdade: Já alguma vez comeste um morcego?», quando, de repente… Pum, catrapus! Caiu num monte de ramos e de folhas secas e ali ficou.

Alice não sofreu uma única beliscadura e pôs‑se em pé no mesmo instante. Olhou à sua volta mas estava escuro. Na sua frente havia outro longo corredor onde se via o Coelho Branco, sempre a correr. Não havia um momento a perder: rápida como o vento, Alice foi no seu encalço, mesmo a tempo de o ouvir dizer, ao dobrar uma esquina:

– Ai, os meus bigodes e as minhas orelhas! Está a fazer‑se tão tarde!

Alice estava quase a alcançá‑lo, mas quando dobrou a esquina não havia traços do Coelho.

(...)

Alice no País das Maravilhas
Lewis Carrol

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Cláudia Melim.
Fotografa de moda & fantasia em Wicked Wonderland Photography. Residente em Lisboa.

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