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10 de julho de 2010

Dorian Gray e a Fotografia

[Dorian Gray e o seu retrato]

Dorian Gray, tornou-se o meu filme favorito. Tudo começou pelo facto do personagem principal apesar da idade avançada, não ter registos corporais, nem marcas do tempo. Não sei qual a ideia da maioria das pessoas, mas pelos avanços da tecnologia parece-me que tal como eu, ninguém quer envelhecer. Se eu andasse em busca de algo não seria da imortalidade, mas sim da juventude. Gostava de permanecer jovem até morrer.

Assim como Dorian foi pintado por Basil Hallward, um artista que ficou atraído pela beleza do rapaz, também eu me considero fascinada pela beleza. É a intensa busca pela beleza das coisas em meu redor que me faz tirar fotografias. Tudo o que fotografo tem que corresponder aos meus padrões de beleza. Não só as pessoas, mas também os objectos. Sinceramente, tenho noção que ao fotografar as pessoas, consigo com que elas revelem o melhor de si e o interior conta muito para que o aspecto físico seja também bonito. É na sua alma que reside tudo o que vemos estampado no seu corpo.

A fotografia tal como a pintura guarda em si um momento que fica para sempre, mesmo que tal como Dorian se tome a consciência que não se será bonito para sempre, pois “à medida que lhe fosse formando a alma, a vida lhe deformaria o corpo. Ele ficaria horrível, hediondo, grotesco.”

É então que Dorian aprisiona a sua alma no quadro. O quadro sofre as marcas do tempo e demonstra as verdadeiras intenções dos seus actos e é por isso que ele o esconde. Mas continua a olhar o quadro durante os vários anos, num misto de horror e prazer.


Às vezes dizem-me que sou bonita e que deveria dar mais valor à minha beleza exterior. Mas o meu fascínio pela beleza não passa por ser obcecada comigo, nem lá perto. Muito menos obcecada com a beleza dos outros. Além disso, tenho consciência de que se alguém conseguisse olhar a minha alma…Olhar o meu quadro, veria uma imagem tão diferente, talvez irreconhecível. As pessoas devem valorizar-se, devem gostar delas como são e não comparar-se com os outros, nem tentar atingir algo perfeito, porque ninguém é perfeito.

Contudo, Dorian não estava sozinho no seu fascínio pela sua beleza e em tirar o maior partido disso. Também Lord Henry era fascinado pela beleza de Dorian e decidiu abriu-lhe as portas de um mundo sem moral e sem culpa, onde tudo era possível.

Despertou em Dorian uma curiosidade que apenas tinha tendência para aumentar: “Quanto mais sabia, mais desejava saber. Tinha apetites furiosos que, embora satisfeitos, se exacerbavam mais e mais”

[Lord Henry e Dorian Gray]

Acredito que se a maioria das pessoas tivesse um Lord Henry na sua vida, também ele as convenceria a entregar-se aos vícios na busca do prazer absoluto. Acredito que seriam incentivadas a corromper a sua própria alma. A vida é curta demais para não a aproveitarmos, o problema é que a maioria das pessoas que buscam o prazer não o fazem só até à satisfação mas tornando-o num excesso, num vício. E tudo o que é excessivo, traz-nos mal estar, estranheza e deixamos de nos conhecer.

Andei à procura do que significava ler Dorian Gray segundo a Psicanálise, área pela qual sou fascinada. Segundo a Psicanálise, ler este livro “foi um exercício fascinante mas difícil, pois, se por um lado ele se entrega à “lei do gozo” como um perverso, por outro lado, nega a existência da falta, cinde-se em bom e mau e mantém “uma identificação imaginária com o falo” como um psicótico. Para Joël Dor (1991), “o psicótico tem um certo conhecimento da castração. Mas trata-se de um conhecimento que o psicótico refuta, para ele mesmo, a ser seu sujeito” (p.148). Nessa negação da falta (não quero perder a beleza, não quero perder a mocidade), Dorian provoca uma cisão em seu eu no qual, para manter um lado bom, nega o mau projectando-o massivamente no retrato.”

"... pode-se tentar recriar o mundo, e no seu lugar construir um outro mundo, no qual os seus aspectos mais insuportáveis sejam eliminados e substituídos por outros mais adequados aos nossos próprios desejos"
(Freud, S; 1969; 100)

1 comentários:

  1. Li o livro mas ainda não vi o filme. Gostei muito do teu post. A verdade é que toda a população anda obcecada com uma beleza perfeita, que é impossível de alcançar.

    Tu realmente despertas a mais pura das belezas de uma pessoa: a beleza interior. Pelo menos, captaste a minha :P

    Beijinhos, Shô Dona RP ;)


    P.S: Nos meus padrões de beleza, o Dorian Gray é 'vonito' :P mas sempre imaginei que escolhessem alguém mais... loiro. xD

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Cláudia Melim.
Fotografa de moda & fantasia em Wicked Wonderland Photography. Residente em Lisboa.

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