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20 de março de 2011

Lua de Sangue – Parte VII

É aconselhável ler as partes anteriores de Lua de Sangue.

Lembro-me do cheiro das flores, das pétalas a roçarem os meus ombros, da textura do veludo na minha pele, do cheiro intenso a cera de vela, dos gritos, do choro e depois o silêncio. Os olhos espelhando o horror. Se alguém pode dizer que viu o seu próprio funeral? Eu posso, mas não foi bonito. 

Os olhos pousados em mim sem palavras. As pessoas a desmaiarem e todos à sua volta, só tive tempo de fugir. Sai da cidade nessa mesma noite. Completamente perdida. Soube mais tarde que o meu criador tinha sido morto pouco depois de me transformar, foi por isso que me tinham encontrado e me tinham dado um funeral decente.

De todas as pessoas presentes no funeral, eu só me lembro de ti. Tu estavas lá. Vestido de smoking preto, a olhar fixamente para mim quando me levantei e fugi. Estavas a escrever as condolências. 

Demorei para entender a história daquele colar. Passei dias a pensar quem me teria oferecido tal presente e nunca o soube. 

Hoje, vieste ver-me. Pensei que nunca mais nos veríamos, mas lá no fundo eu sabia que vinhas. Quiseste falar sobre nós e contaste-me a tua história. Nunca tinha feito tanto sentido, o colar tinha sido um presente teu. Começaste a seguir-me como forma de investigares o que andava a fazer e acabaste por te envolver demasiado. 

- Estás arrependido? – perguntei 

- Arrependido de quê? 

- De te teres aproximado demasiado? 

- Não. Estou apenas arrependido de não ter sido demasiado egoísta para evitar que te tornassem assim.

- Podias ter impedido? – questionei. 

Viraste as costas e começaste a caminhar para a porta. 

- Parece-me que já não tenho mais nada a dizer-te. O que aconteceu é passado. Tu és uma vampira, eu sou humano. Não há nada que nos una agora. Disseste que eu deveria viver a minha vida, é o que vou fazer a partir de agora. Só achei que... 

- Vieste aqui dizer-me tudo o que te tinha dito anteriormente? – interrompi – Vieste dizer-me que tudo o que se passou entre nós é passado? 

Não me contive e num golpe encostei-o à parede, olhei-o nos olhos. Tinham lágrimas. 

- Porquê que não me dizes a verdade? 

Ele inspirou fundo. 

- A verdade? De que vale a verdade agora? É tarde demais. Não percebes que já tentámos ficar juntos e não dá? 

 - Sim...mas não tens de me dispensar assim. – empurrei a mão contra o seu peito para que não se mexesse. 

- Não percebes, pois não? O que me trouxe aqui, porque vim atrás de ti, porque te contei todas estas coisas...Eu amo-te. 

Olhei-o por momentos. 

- Eu amo-te. Sempre te amei, desde que eras humana. E naquela noite, podia ter impedido que te tivessem transformado, mas não iria confrontar o teu namorado mesmo estando armado. 

- O meu namorado?! - Tu não te lembras de nada...Eu não quis enfrentá-lo porque sabia o preço que ele pagaria por te transformar sem autorização. E foi o preço que ele pagou. Fui eu que liguei à policia que te encontrou morta. 

A minha mão caiu do seu peito e afastei-me. 

- Que estás a dizer-me? 

- Eu sou o culpado da tua condição. Não espero que me perdoes. 

Baixaste a cabeça. Tudo o que me estava a passar pela cabeça, não fazia sentido, estava demasiado confusa. Não me lembrava de nada do que ele tinha contado. 

- Vou-me embora. – disseste enquanto saias pela porta, não te impedi. 

Às vezes, as pessoas tomam pequenas decisões que são capazes de mudar o rumo da história. Não consigo sentir raiva de ti, não depois de tudo o que vivemos juntos, não depois de teres cuidado de mim durante todo este tempo. A lua de sangue continua no meu pescoço. Sempre achei que de alguma maneira ela me guiava até ti e não quero perder-me novamente. Posso compreender o que fizeste naquela noite : quiseste dar significado a um amor para sempre?

O meu amor por ti será para sempre...

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Cláudia Melim.
Fotografa de moda & fantasia em Wicked Wonderland Photography. Residente em Lisboa.

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