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8 de novembro de 2010

Lua de Sangue - Parte III

É aconselhável ler as primeiras duas partes de Lua de Sangue [I & II

Há pelo menos dois meses que não te procurava e evitava todos os locais onde nos podíamos encontrar. Se senti a tua falta? Não era a tua falta que sentia, era do que me fazias quando te aproximavas. Era da tua vontade de me tocares, era da adrenalina de saber que não te queria tocar para não te magoar, mas ter em mim algo a dizer: “Força, ele é teu se quiseres!” 

E eu queria, queria tanto que sentia que se o fizesse trairia toda a minha espécie, mesmo que eles me tenham deixado para trás há muito tempo. Mas estava condenada a estar sozinha, mesmo sabendo que podia estar contigo. Era uma confusão na minha cabeça que se traduzia numa raiva transformada na violência de todos os que matei nesses dois meses. 

Uma dessas noites, encontrei um rapaz que saia do carro numa rua deserta. Os humanos são realmente descuidados, mas nessa noite também o fui. Aproximei-me lentamente, agarrei-o com força e virei-o para mim. Era tão parecido contigo que não consegui fazer nada. Larguei-o violentamente contra o carro, pedi desculpa e fugi para casa. A mesma casa onde estiveste pela primeira vez, a mesma casa que nessa mesma noite, destrui e incendiei.

Estás a matar-me. Estás a matar-me da única forma que consegues. Isto é de loucos e há muito que penso ter perdido a lucidez. Enquanto os bombeiros tratavam do incêndio, sai pela janela. Segui os meus instintos e fui procurar-te. Queria ver-te, queria que me tocasses para dizer para te dizer para não me tocares. Queria que me beijasses para te pedir para que nunca mais o voltasses a fazer. 

Não foi dificil encontrar-te. Toquei à campainha no portão e ele abriu-se. Não sei se me esperavas mas assim que me aproximei da porta, abriste-a. Olhámo-nos nos olhos por momentos.

- Vais ficar aí a olhar para mim? – perguntei.

- Deveria convidar-te a entrar? – questionaste parecendo calmo demais perante a situação.

- Talvez tivesse sido melhor não ter vindo. – Afirmei virando-lhe as costas e caminhando para o portão.

- Não. Fica. – disseste baixinho. – Podes entrar... 

Nesse momento, virei-me e atirei-te para o chão, ficando em cima de ti. Deves ter achado que foi má ideia convidares-me a entrar, mas a verdade é que desta vez não iria fazer-te mal. - O que pensas que estás a fazer? – perguntaste surpreendido. Sem te deixar dizer mais nada, beijámo-nos, enquanto nenhum de nós se arrependeu. 

Há beijos que sabem a pecado, que mesmo sabendo que não podemos, que não devemos e possivelmente poderá prejudicar-nos, aquilo que sentimos faz esquecer tudo o resto. E eu sei o que me fazer sentir: viva. Fazes-me sentir que não sou um monstro. 

Nunca tinha feito nada assim, nem mesmo em humana. Nunca tinha sentido nada assim até teres aparecido na minha vida. E nessa noite, mostraste-me que me posso controlar. Que não tenho de me impedir de fazer nada, que as situações estão controladas se assim o desejar, que o mundo pode ser nosso se assim quisermos. 

Sinceramente, não importa o que virá amanhã de manhã porque sei que ainda estarás comigo. Esperaste tanto tempo por isto. Lá no fundo sempre soubeste que seria tua...e sou, mesmo que me custe a acreditar que seja verdade...

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Cláudia Melim.
Fotografa de moda & fantasia em Wicked Wonderland Photography. Residente em Lisboa.

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