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18 de fevereiro de 2011

Lua de Sangue - Parte V

É aconselhável ler as partes anteriores de Lua de Sangue.

Diary by way2col4u


Querido diário,

Eu amo-o. Desde o primeiro instante, desde a primeira vez. Será que ele ainda se lembra da primeira vez que nos vimos? 

Hoje releio todas as tuas páginas e denoto como nunca escrevi sobre ele. Porquê? Não sei. Talvez o quisesse só para mim, todas as nossas memórias guardadas só para mim, todos os nossos momentos. Quero-o só para mim...tenho a certeza disso, ele é a minha pequena obscessão, o meu “guilty pleasure”. E ele diz que é meu, posso fazer com ele o que quiser e no entanto, não faço nada...Não consigo...Tenho medo...Lembro-me tão bem de todas as vezes em que atirei o meu corpo sobre a cama e pensei nisso. 

Sabes, ainda sinto a presença dele e o seu olhar pousado em mim de todas as vezes que me seguiu e sei que lá no fundo isso sempre me protegeu. Gostava de lhe ler os pensamentos e saber se ele pensa em mim assim...se ainda se lembra daquela noite. 

Tinha chegado à cidade e estava completamente perdida, há dias que não me alimentava. A cidade à noite é assustadora. As sombras dos carros que dançam nas paredes, os candeeiros que piscam sem parar, a chuva que embate constamente nos caixotes do lixo. Não me sentia em casa. Estava numa daquelas noites em que mais nada me importava e se tivesse morrido (como se fosse possível), seria apenas menos uma.

Depois ele apareceu, afugentou os mendigos que vieram na minha direcção e ajudou-me a entrar no carro, levando-me para a sua casa. Tenho a certeza que não percebeu porque estava fraca ou porque quase não lhe dirigi a palavra. Era estranho alguém estar a tratar-me tão bem. Mas na manhã seguinte ele já não me viu.

 O que sobrou daquela noite, para ele, foi um pouco de nada. Mas para mim, sobrou o modo inocente como dormia, o toque da sua pele, a suavidade dos seus cabelos...Naquela noite, soube imediatamente que não podia ficar perto dele, seria demasiado perigoso para nós,  por mais que sentisse que ele seria um anjo da guarda.

A partir dessa noite, comecei a vê-lo em todo o lado onde ia. Sei que ele assistiu à minha primeira morte aqui. Não queria companheiros, nunca quis, queria apenas alimentar-me e isso descansou-o. Não queria construir um exército de vampiros, queria apenas existir, sobreviver aqui.Ele ajudou-me. Comecei a existir para ele e isso bastava-me.

Nunca quis que ele se aproximasse, mas também não queria que fosse embora. Havia uma razão para me alimentar todos os dias, para reconstruir a minha vida aqui. Imagino que ele pensava em mim, todos os dias, mesmo que não fosse pelas melhores razões. Havia um laço ténue entre nós. Uma espécie de amor que se alimentava todas as noites e que se desvanecia todas as manhãs...

Ele não podia aproximar-se demasiado. Mas sei que queria ver-me. Senti-o durante várias noites do lado de fora da minha janela. Às vezes, quando não vinha eu passava pelo seu apartamento e ali estava ele, no computador. Ele sabia das minhas visitas, porque o  cão escondia-se no meio das suas pernas e ele sorria.

No entanto, nunca levantou os olhos para me olhar directamente até à primeira vez que me entrou em casa e me aproximei demasiado. Foi a noite em que soube que não consigo controlar certos impulsos e que o que ele despertou em mim foi muito mais que desejo por sangue, despertou amor. Eu amo-o. Eu amo-o. Eu amo-o.

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Cláudia Melim.
Fotografa de moda & fantasia em Wicked Wonderland Photography. Residente em Lisboa.

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